Psicológica fala dos perigos da ilusão com os bebês reborn

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Nas últimas semanas, um assunto ganhou o destaque nas redes sociais e divide opiniões: os bebês reborn. Os bonecos foram criados para colecionadores ou mesmo para crianças brincarem e possuem semelhança com bebês de verdade. A perfeição dos detalhes de fabricação impressiona e os torna fisicamente semelhante aos humanos. Atualmente, muitos as possuem e os tratam como se fossem, realmente,  humanos e filhos biológicos. Inclusive, alguns levam ao pediatra, ao posto de saúde, batizam e fazem festa de aniversário. O tema ganhou as redes e o assunto já é discutido na área da saúde mental. O prefeito de Chapecó, João Rodrigues, que ajudou Arroio do Meio e o Vale após a enchente de maio, gravou um vídeo e se manifestou sobre o assunto: se alguém os levar para atendimento, será encaminhado para tratamento psicológico. A equipe do Jornal Nossa Gente conversou com a psicóloga Ruth Wissmann Alves sobre o tema. Ela atua no mercado há mais de 20 anos. Ajudou a fundar a Psiquiatra no Hospital São José.

 

Jornal Nossa Gente: Como surgiu a febre dos Bebês Reborn?

 

Ruth Wissmann Alves: Isso já ocorre desde 1990 quando artistas criaram esses bonecos que pareciam muito reais. Eram feitos para treinamentos de médicos de primeiros socorros, pois simulavam bebês recém-nascidos.

 

Jornal Nossa Gente – Quais as consequências negativas de criá-los como se fossem humanos?

 

Ruth Wissmann Alves: Agora está ocorrendo uma dependência emocional onde a pessoa tem dificuldade de estabelecer vínculos reais, há o isolamento social, um confusão entre a realidade e a fantasia. Freud já explicava que o sentimento de dependência e relação passional tem ligação com a diminuição da autoestima e medo do desamparo. Ou seja, o indivíduo tem sua autoestima reduzida quando ocorre o investimento amoroso no objeto. Algumas pessoas têm esses bebês como forma terapêutica em alguns casos como os de Alzheimer, enquanto os outros tratam como se fossem reais. Eles são para brincar e para colecionadores. Na Psicologia, falamos que essa dependência com esses bonecos é uma ilusão, uma percepção distorcida da realidade. É algo que ocorre quando o estímulo sensorial está presente, mas de forma incorreta e mal interpretado. As ilusões podem ser visuais, ópticas, auditivas e táteis. No entanto, a vida real não é feita de afetos programados. Isso gera uma confusão mental que mistura realidade e irrealidade. Carências efetivas é frustrações se trata com psicólogo e não dá forma que está ocorrendo. Para subrir carência, luto ou separação tem outras formas de cura e que são saudáveis como a terapia psicológica.

 

Jornal Nossa Gente: Como as pessoas mais próximas podem ajudar quem passa por isso e evitar problemas futuros?

 

Ruth Wissmann Alves: Os mais próximos são os que mais percebemos que algo está errado. Quando o apego na boneca vai além da realidade, os familiares podem ajudar e orientar a pessoa. Quando alguém trata um boneco como algo vivo a ajuda é necessária na questão psicológica e psiquiátrica. É preciso analisar e tratar o problema que está ocorrendo na vida da pessoa. Ver o porquê disso estar ocorrendo. Quem trata algo que não tem vida como algo vivo está com algum problema. O profissional da saúde é fundamental nesse momento. Colecionar essas bonecas e deixar uma criança brincar é uma coisa. Agora distorcer as coisas é outro departamento.

 

Jornal Nossa Gente: Que tipo de transtorno isso pode gerar?

 

Ruth Wissmann Alves: É preciso avaliar e identificar, pois podem ser muitos. É algo que merece acompanhando e atenção. Isso significa que uma luz vermelha está piscando e a pessoa pode inconscientemente dizer ‘toma conta de mim, pois tem algo errado”. Com certeza, está com uma dificuldade emocional e grave.

Fotos: Carolina Schmidt/Jornal Nossa Gente e Feepek

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