A capital do Vale do Taquari é uma usina de curiosidades, todas à mostra, mas por isso mesmo ocultas no anonimato da claridade.
Ao completar 132 anos, Lajeado segue como o município mais populoso do Vale. Segundo o Censo, somos mais de 97 mil moradores.
Nas centenas residências existentes na cidade, difícil uma que não tenha animal de estimação. Mas muitos animais de rua estão para serem adotados no Canil Público Municipal. Ao ser uma cidade humana, Lajeado precisa ser ainda, respeitável para com os bichanos abandonados.
A rua dá uma lição jornalística. Há sabor e dissabor na calçada, no céu, ao luar. Um cidadão precisa fugir do olhar domesticado para descobrir a riqueza das histórias anônimas.
Para falar de Lajeado vamos começar a caminhada a pé pela Júlio de Castilhos, a principal rua, observando e absorvendo as cenas e a população.
Nossa caminhada inicia no número 1285 da Júlio de Castilhos, onde há uma casa e cafeteria de chocolates de Gramado. A casa é lúdica tem desenhos infantis para as crianças entrarem no mundo da magia. É um tipo de comércio que chama a atenção.

O CEMITÉRIO NO CENTRO
É incrível como Lajeado é uma cidade moderna, que tem o título de Smart Cities, possui um cemitério na área central, muito nobre e valorizada. O cemitério possui uma rua arborizada e fica aberto todos os dias, até às 18h.
O cemitério está ali há tanto tempo que faz parte da cena comum e ninguém percebe a invisibilidade dos mortos.
Lajeado é uma cidade essencialmente urbana e as lojas se acumulam uma ao lado da outra. Aos sábados, o movimento é intenso. As farmácias são numerosas, às vezes uma está instalada na frente da outra.
FARMÁCIAS EM DEMASIA
Marisa Sartori é proprietária de uma farmácia que existe há 29 anos no Centro da Cidade. A sua está instalada ai muito antes dos nomes famosos. Segundo Marisa, o lajeadense está consumindo muito medicamentos ansiolíticos, para diabetes e colesterol.
“A situação de instabilidade e de não se saber o que vem pela frente, de um futuro incerto faz com que as pessoas busquem algo para se acalmar”, salienta ela. Sai muito também antidepressivos e remédios para dor de cabeça.
O MERCADO SERVE COMO PONTO DE “PEDIR”
Na área Central de Lajeado, um famoso mercado atrai pedintes à frente das portas. São homens e mulheres que esperam alguma generosidade dos consumidores: um pacote de pão, massa ou moedas para garantir o lanche da tarde.Um homem grisalho, de camisa azul, com boné e bengala, bengala pede alguns trocados. Ele é aposentado, do Bairro Conservas e necessita incrementar a renda. Os mais solidários lhe dão moedas ou notas baixas de um real ou cinco reais.
Neste mercado, a Stacione que controla o estacionamento rotativo, decidiu cobrar pelas vagas na área na frente do local e está gerando polêmica. Porque muitos pensavam que a área azul seria do mercado e estava liberada para compras, o que não é verdade.
Em Lajeado, muitos resistem aos preços do estacionamento rotativo. Uma hora custa R2,50.
A cidade possui mais de duas mil vagas na área central que são cobradas pela Stacione e mesmo assim é difícil estacionar. Em sum sábado pela manhã, você tem de rodar pelo menos dez minutos para encontrar lugar para seu veículo. Alguns motoristas não respeitam os limites e não estacionam nos “quadrados certos”. Muitos deles assim, ocupam duas vagas, causando irritação no condutor que procura um lugar no centro. Infelizmente, estas cenas são comuns. Falta ao motorista de Lajeado, respeito e empatia no trânsito.
O CHAPÉU DE VANDERLEI
O monitor Vanderlei da Cruz nasceu em Sobradinho e está em Lajeado, há mais de 20 anos. Ele aprecia a cidade pois acredita existir opção de trabalho. Atuou como garçom, vendedor de bilhete e hoje é monitor da Stacione. Vanderlei chama a atenção por trabalhar neste verão, com um guarda-chuva de frevo. É um chapéu colorido e grande que ele instala na cabeça para se proteger do calor.
A criatividade de Vanderlei chama a atenção pelas ruas. Ele não se importa. Seu acessório é útil e o faz trabalhar com mais eficiência.
O COMÉRCIO DA CALÇADA
A avenida mais movimenta de Lajeado atrai migrantes comerciantes. Há uma mulher do Senegal que precisa sustentar os três filhos e vende eletrônicos , relógios e CDs. Ela ganha por comissão. Ela é resistente ao diálogo, porque precisa ter tempo para falar com os consumidores. Cada venda é uma benção.
O FLORISTA
Cesar Kleinburg é florista há 26 anos em Lajeado. Você o encontra na esquina de um banco central, sempre muito solícito e risonho e com flores muito coloridas. Para ele. “Lajeado é uma cidade polo, evoluiu demais. Eu vivo de Lajeado.” Com as flores, ele consegue um padrão de vida razoável: tem casa, carro e uma propriedade de terra. “É isso que basta para a gente ser feliz.”
Cidade Formigueiro
A vida é dia útil. E de segunda a sábado, a sofreguidão emperra o trânsito. Para muitos o Centro é local de comprar roupas, sapatos e jóias. Para corretores de imóveis e proprietários de prédios, de ganhar dinheiro: A Júlio de Castilhos possui um dos metros quadrados mais caros da cidade. Para os lojistas, é o chamariz para atrair clientela, mulheres afoitas pela moda e oportunidade de abrir crediário. Enquanto a luz do sol banha a cidade, ruídos, descargas, buzinas, passos apressados, a diversidade está estampada num mosaico que ninguém vê: mas há personagens que evocam curiosidade, Lajeado é uma cidade formigueiro.